Saturday, February 03, 2007

Havia uma pedra no meio do caminho

Há caminhos inúmeros, de acordo com a produção criativa de cada imaginação, e nenhum deles se propõem a nos levar a lugar algum. São cabides para os adjetivos. Depois de duas dezenas de passos discretos, abaixo-me e pego com as mãos uma pedra. Havia uma pedra no meio do caminho; mas qual a implicação desse fato?

É tudo ilusão a família fraterna e unida, a profissão útil, honesta e sedutora, o romance intenso, eterno e sem erros. São mais cruéis as ilusões que depositam expectativas de respeito e consideração em pessoas que, na primeira ou segunda oportunidade, mandam-lhe calar a boca e dizem que não lhe devem satisfações. Outra pedra.

Aceitar as costuras mal acabadas do cotidiano, o tecido que nem sempre é de boa qualidade e temos que vesti-lo diariamente; observar na vitrine o sapato novo, o carro elegante, enquanto calçamos o mesmo e velho tênis e tomamos o mesmo ônibus: a vida tem dessas coisas, dessas pedras.

Em vez da angústia de duvidar, sentir ininterruptamente a certeza. Saber quem é o homem ou a mulher da sua vida e vê-los distantes, saber qual é o seu papel e dever nesta efêmera existência mas dedilhar ainda a engrenagem dessas transformações, saber que o tempo reserva às verdades latentes uma grande manchete nos jornais e ter que dominar a ansiedade: a pedra da paciência.

Os caminhos podem ser estreitos, escorregadios, obscuros e esburacados ou suaves, pavimentados, iluminados e até ofereceram ao viajante tranqüilizadoras paisagens. Quem define o adjetivo do caminho somos nós, conforme a maneira como seguramos as pedras, lidamos com elas e aprendemos com as suas mensagens.

Antes de reclamar das pedras do seu caminho, lembre-se de que esta palavra não passa de um cabide, de um acessório, e que os adjetivos atribuídos a ela refletem a disposição, a coragem, a ética e o amor que você possui e dedica a sua vida.

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