Sunday, August 19, 2007

O diferencial

- Você não me satisfaz.

Quando as pessoas percebem que a superficialidade domina a maioria dos seus relacionamentos elas se assustam. Em seguida, por um tempo longo, questionam-se e tentam descobrir uma pista que prove o quanto estão equivocadas. Mas se essa pista for ilusória, resta a elas criarem vergonha na cara e amadurecerem.

- Já que você não me satisfaz, você não me atrai. Ou não me atrai porque não me satisfaz. O fato é que estou passando vontade e isso não me agrada, está fora do que eu me permito suportar. Não quero. Você pra mim é pouco, menos do que eu preciso.

O mais difícil costuma ser admitir que somos os maiores responsáveis pela superficialidade que nos persegue. Se homens são cafajestes, se os amigos são interesseiros e se a família é ausente, não faz a mínima diferença. As nossas escolhas, palavras e atitudes é que definem o nível de intimidade das relações que construímos.

- Apesar de eu estar ciente da sua timidez mascarada, do seu medo de não agradar a todos, da sua racionalidade exagerada justamente porque quer estar preparado para se defender das irracionalidades da vida... Não obstante eu saiba desses restos de linha que costuram seu discurso, não estou interessada em você.

A observação e a análise dos fatos são sempre excelentes auxiliares para não cometermos a loucura de investir em casos toscos, inférteis. Seres humanos têm potencial para conviverem harmoniosamente como casais, amigos de longa data ou familiares que se entendem. Infelizmente, entretanto, esse potencial só se transforma em habilidade para raríssimas pessoas.

- Não estou enfeitiçada pela sua beleza física. Não trocaria o prazer da minha tranqüilidade por trinta minutos de sexo com você. Não morrerei se você não se convencer de que merecemos uma chance. Não vou ligar no seu celular dizendo como você é lindo, adorável e irresistível. Não escreverei recados confessando a minha saudade. Nada disso me basta, eu quero mais.

Durante o processo de aprendizado para sermos emocionalmente maduros, diversas vezes teremos de surpreender os nossos medos com gigantescas doses de espontaneidade. Só assim conseguiremos despistar o talento de brincar com o jogo da sedução.

- Não me dê apelidos vazios. Não substitua meu nome por “meu amor”, “paixão”, “meu anjo”. Não apague a minha singularidade porque é isso que eu quero que você enxergue. Não demore para me dar sinal de vida novamente, porque eu quero pontes entre os nossos encontros, quero ouvir sua voz no dia seguinte e no próximo, quero saber do seu trabalho, da sua diversão, dos seus problemas.

Sinceridade devia ser vendida nas farmácias em embalagem com tarja preta. É perigosa, a danada. De repente, ela ou empurra a sua vida para o contexto mais sombrio e depressivo da sua imaginação ou deixa-a repleta de emoções, como num filme de James Bond.

- Já ouviu aquela frase que diz “beleza não põe mesa”? Não seja bobo de acreditar que seu corpinho irá se manter sarado depois dos cinqüenta, que os seus belos olhos serão eternamente tudo o que uma mulher precisa para se apaixonar, que a gentileza do seu flerte vencerá o atrativo da fidelidade nos outros homens e que haverá sempre alguém disposto a lhe dar um abraço e ouvir suas histórias.

A pedra polida ficou para trás. Darwin já se encarregou de explicar porquê os nômades perderam a corrida. As espécies evoluem, as necessidades deixam de se resumir à conquista, à cópula e à procriação.

- Não quero chegar em uma festa e vê-lo com outra mulher, não quero sentir que a minha felicidade amorosa está sendo ameaçada pela tribo das fêmeas necessitadas. Não quero ter que continuar escondendo os meus sentimentos porque não sei adivinhar o que você pensa e sente.
Antes que as máquinas fiquem mais humanas do que nós, antes que os antidepressivos sejam a água da próxima geração, antes que a amizade seja uma palavra conhecida apenas pelos anciãos e antes que sintomas de amor sejam interpretados como doença mental, devíamos nos arriscar um bocadinho mais. A sabedoria das células não nega: a vida não se faz com solidão.

- Não quero desperdiçar a nossa sintonia. Não quero dizer adeus. Não quero essa dor.

10 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Obrigada, Dani, pelo texto.

Monday, August 20, 2007  
Blogger .barile said...

Por favor, não compare a paixão a um filme de James Bond - não queira equivalências àquela coisa batizada, ironicamente, de "Cantada".

Vc é das poucas pessoas que citam a si mesma. Parabéns. É um egocentrismo bonitinho.

Ah, ainda espero ansiosamente uma REAL defesa ao Chico pós-80.

Monday, August 20, 2007  
Blogger .barile said...

ps. Tira essa censura da moderação dos comentários...

Monday, August 20, 2007  
Anonymous Anonymous said...

Dani suas palavras sao fortes e sinceras. Amo a Dani que persiste em procurar aquilo que lhe idealmente faria feliz. Me alegro em saber que procuras maior e mais. Beijos

Monday, August 20, 2007  
Anonymous Anonymous said...

This comment has been removed by the author.

Tuesday, August 21, 2007  
Anonymous Anonymous said...

Dan, eu fico impressionado. É impressionante como agora me senti um mero solista tentando ensinar alguém que já se banhou no rio do conhecimento, mas que nunca precisou relembrar nada, porque é inato o universo do amor para você. Você tem resoluções muito sólidas para uma menina que vive eternamente em dúvidas, banhada em sofrimento. Pára de ser cética, você já tem as respostas. Só porecisa acender uma luz e enxergar.

Tuesday, August 21, 2007  
Anonymous Anonymous said...

Dani, o maior mal das pessoas é se iludir com o amor citoplasmático. Ou, pior ainda, é se contentar com ele. Amor citoplasmático é aquele que reúne diversos elementos, como a atração, o sexo, a simpatia e diversas qualidades individuais superficiais. O amor mais que isso, como você bem assinalou, é aquele que é sustentado basicamente por uma intimidade e cumplicidade adquirida durante um relacionamento e que é o verdadeiro combustível da relação. Vamos chamar isso de amor nucleado. E vamos dizer também que um relacionamento é uma célula. Lembrando a biologia elementar, sabemos que a célula anucleada morre, enquanto que a nucleada se multiplica e assim o amor, nosso personagem, persiste. E nada mais pleno que exigir o amor verdadeiro, porque exigindo-o fazemos questão da vida e aquele que dá as costas para ela já a desconhece há muito tempo. Lembro claro que o núcleo é o principal, mas que o citoplasma também é necessário, porque sem dúvidas amor se faz com corpo e alma, não?
Beijão, te amo!!

Tuesday, August 21, 2007  
Blogger Cíntia Costa said...

É tão ruim quando a gente se obriga ao silêncio da dignidade... Uma dor muito indigna.
Gostei :)

Tuesday, August 21, 2007  
Blogger paulotpires said...

profundo...

Thursday, August 23, 2007  
Anonymous Anonymous said...

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Wednesday, January 20, 2010  

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