Monday, December 11, 2006

Beijo no rosto

Eu sou a febre que o seu suor expele e que o afoga na realidade. Somos as paralelas que se cruzam no infinito. Somos um beijo no rosto de pernas entrelaçadas e encaixadas como peças de montar. Sucumbo ao ódio dos pudores flamejantes, cedo meu orgulho em troca de um pouco de nós. Derreto seus cabelos e pêlos com o fervor dos meus beijos e depois me arrependo quando vejo a poça das barreiras liquefeitas. Você é o RNA das minhas paixões, o identificador do ar puro que socorre minhas alegrias. Sempre a mesma segurança do avesso que o impede de alargar os limites e gozar imprudente. Você admite nossa casa, nossa mesa e nosso banho, mas insiste em deixar uma chave pra fora, caso tenha que me trancafiar na espera de um final feliz. Lá estou agora, despida de um destino certo, sem memórias nos bolsos e sem sua saliva pelos meus poros. Essa dança de esgrimas cegas dói mais que um punhal do seu abandono.

Você me leva até seu quarto, compartilhamos o sono e a umidade da respiração embora nos defendamos um do outro, permanecendo na jaula da tentação apenas adjacente. Se me pedissem para traduzir seus olhares, tons de voz, idiossincrazias todas, bastaria que eu puxasse, com mãos atentas, seus pedaços de dentro de mim - como uma oferenda aos seus medos de macho.

Escorrego pelos seus silêncios como uma pluma que faz cócegas e, perplexo, você se distancia por não saber a direção do cata- vento.

Dezenas de dias e de meses costuram uma história sem enredo, fatigada e teimosa ao mesmo tempo, por causa da sequência inabalável de clímax desorganizados. Dúvidas me perseguem intrigadas a respeito do calor dos seus romances, da intensidade da sua solidão multiplamente acompanhada. Em seguida, recordo-me dos seus arrepios durante singelas conversas nossas, mais penetrantes que o rasgo de qualquer útero. Sobram-me lágrimas e soluços. Restam-me a descrença e a esperança. Invado sua trajetória, estraçalhando seu controle em um ângulo perpendicular ao seu domínio. Então você me expulsa, cospe o meu perfume que sai das suas entranhas e disfarça a fusão das nossas vidas. O tempo me consola.

Busco nas razões óbvias a certeza errada. A apatia das minhas sensações é incapaz de não perceber a sua vontade e as inseguranças que embaçam seu ideal de liberdade. A lagarta oca de uma futura borboleta perfeita. Um beijo no rosto, porque da boca já estão vazando toneladas de mistura de nós - que assusta.

1 Comments:

Blogger paulotpires said...

Muito gráfico, muito explícito, muito sexy... Gostei muito

Thursday, December 14, 2006  

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