Monday, July 31, 2006

O menino das bochechas de morango

Queria, antes de tudo,
brincar de inventar.
A gente se balançava na rede,
invadindo o lar da imaginação.

Ele não tinha mais de metro e meio.
Mas era forte o bastante
para abraçar todos os sonhos do mundo.

O menino tinha tantas idéias na mente,
que mal cabia no tapete vermelho da criação.

Não precisava ser gênio,
não precisava ser homem,
ele já era ele, e nele,
tudo o que queria ser:
o menino das bochechas de morango.

Tuesday, July 18, 2006

NUDEZ – deles, os sonhos.

Seria a solidão a única realidade imutável? Porque depois de tantas tentativas de abraçar qualquer espaço confortável, não fui capaz de ter nenhuma vitória.

Mexo-me, remexo-me nas minhas histórias e delas todas só me aparece o infinito vazio. A dificuldade às vezes age como entorpecente, dependendo do grau de solidão enraizado no pensamento.

Deles todos, não há amor vivo ou ressuscitado, nem paz. Porque deles todos, os sonhos, não sobreviveu qualquer rumo ou qualquer vontade. Entupiram-se as veias dos desejos, como se uma tempestade de dor transformasse o poder do sangue em inútil líquido vermelho aguado.

A conseqüência dos minutos não passa de pura tristeza encurralada, trancafiada sem chaves de libertação.

Uma corrida de cavalos cegos. Um prêmio como a roupa do rei. Uma consciência de argila que não endurece, por isso nunca está segura.

Na profusão de abismos, o território é utopia. De concreto, só se descobrem mapas de uma terra inabitada.

Gavetas cheias de indiferença mofada, fedorenta, que causa alergia. Deles, nenhuma resposta.

Eles também não se sustentam. Perderam o guia inominável. Talvez um simples resultado de loucura não detectada. Deles, ainda tento arrancar os cacos.

É estômago, é ventre, é pulmão e é gozo. É exagero de humano, demasiado humano. É agonia.

Deles, o perfil me assusta. Levo um susto constante quando enxergo o ponto final. Um ponto final sem a sobrevida do ponto e vírgula. Crueldade.

Há cirurgias que evidenciam a mediocridade de tanto sangue, de tanta veia, osso, pêlo, pele, tecido. Pegam suas pernas, te cortam, te abrem, te tiram as tripas; te costuram e saem pra tomar um café. Comer um pedaço de bife suculento.

Sobra aquela grande quantidade de oxigênio passeando pelas estradas vermelhas do próximo segundo: vida.

Evacuar. Ingerir. Expelir. Absorver.

Filtrar?

Quais os seres humanos que aprenderam a filtrar e recolher o necessário? Os macacos?

Cuspir alivia. Por pouco tempo.

Humano demais é engano. Transcender o que nem foi atingido ainda? Reconsidere.

A humanidade está na terra, na chuva, no sol. Humanidade é o que se faz com o combustível que a natureza oferece.

Cuspir um tabuleiro não é o mesmo que parar de jogar. É indecisão.

Nudez? Vista-se com os mais pesados casacos, escolha um belo cachecol, botas de couro, passe uma espessa camada de maquiagem: essa será sua nudez mais reluzente.

A única nudez são as escolhas que fazemos. Deles, os sonhos.

Saturday, July 01, 2006

Movimento

A vida se move com gotas de perdão.