Wednesday, August 29, 2007

O encantador de pessoas

Atice a sua mente e façamos um exercício. Imagine um músico com a presença de palco do Cazuza, a irreverência dos Mamonas Assassinas e a mensagem que lembra Raul Seixas. Ele toca inúmeros instrumentos, dança, hipnotiza o público e o faz cantar, rir, abrir os braços imitando um mosquito doidão. Felipe Montanari é o “Nonada”, do escritor Guimarães Rosa. Inédito e indefinível, atraente e curioso.

Agora, vou lhe contar a história de como este paulistano, filho do meio do seu Pedro e da dona Lena, transformou-se em um artista interessante. Ainda na barriga da mãe ele começou a receber influências culturais, “Durante a gravidez do Felipe, eu estava trabalhando na minha tese, sobre a música popular e o texto literário. Ouvia muito MPB e lia bastante", relembra Marilena. No dia sete de julho de 1980, Felipe de Lauro Montanari nasceu, canceriano, com ascendente em peixes e lua em touro. A posição dos astros já dava dicas da personalidade sensível, instável e criativa que se formaria.

Primeiro destacaram-se as habilidades do ator. Desde criança era dramático, fazia questão de aparecer. Aos dez anos começou a tocar órgão eletrônico e o lado musical despontou. “Eu estava dormindo e ele entrava no quarto com o berimbau, fazendo barulho. Gostava de tocar com o violão nas costas pra chamar a atenção”, conta o irmão mais novo, Lucas Montanari, 20. O talento artístico era complementado pelo relacionamento com o pai, Pedro, formado em filosofia e contestador firme da ditadura, que deixou o cargo de diretor de banco para trabalhar em casa, perto da família, como consultor.

Na adolescência, Felipe combinou os prazeres da música e da arte com a aventura de ser turista, na maioria das vezes sem muitos recursos. O amigo, Fábio Frood, 29, revela como eles se divertiam: "Éramos uma dupla de palhaços em festas infantis, Costeleta e Chumbinho. Ganhávamos uma graninha e íamos viajar. Quando faltava dinheiro, a gente fazia malabarismo no farol, cuspia fogo, inventava arte pra ganhar um trocado, pedia carona”. “O Fê sempre foi sensível, era legal brigar com ele porque ele chorava (risos). Acho que essa característica o ajuda a ser tão criativo, um artista tão complexo. É o único que eu conheço que compõe, toca a viola, dá risada, interage com as pessoas e canta ao mesmo tempo”, acrescenta Frood.

Quando terminou o colegial técnico em Propaganda e Marketing, ele contrariou a expectativa da mãe e decidiu não continuar a carreira publicitária. “Tentaram me ensinar como convencer o fulano de que uma porcaria é um ótimo produto. Não quero fazer isso. Quero trabalhar com gente feliz”, justifica. Esse argumento o levou à faculdade de Turismo, em 1998.

Dificilmente a escolha de outra profissão seria tão bem sucedida. O curso de turismo permitiu que ele aplicasse seu dom de entreter pessoas e adquirisse a experiência de conhecer diferentes culturas, o que enriqueceu seu espírito artístico. Felipe nunca passou despercebido. O colega de faculdade, Bruno Flaiban, 27, relata uma situação em que o carisma do amigo transformou suas férias: "Estávamos na Bahia, para passar o reveillón, hospedados em um lugar sem muita vida noturna. O Fê foi até um dos quiosques de praia e fez contato com os donos, se apresentou como artista, com seu violão e alegria. Dois dias depois, aquele quiosque era o novo point de todas as praias da região”.

Em dezembro de 2000, ele literalmente deixa o Brasil para entreter o mundo. Embarca pela primeira vez em um navio, com a função de animar os passageiros. Durante os seis anos trabalhando em cruzeiros nacionais e internacionais, conheceu praticamente toda a costa brasileira e européia, virou poliglota, foi aplaudido por platéias das mais heterogêneas, respeitado e querido pelos outros funcionários, desde o faxineiro até o comandante. “A diferença é que o Fê não faz animação, ele é um animador, naturalmente. Mesmo quando vai beber um copo de água ele transforma aquilo em uma cena engraçada”, explica o colega de faculdade e parceiro de animação no navio, Bruno Cordaro, 26.

Apesar de, nesse período, ter exercitado mais a aptidão para showman do que para músico, Felipe aproveitava os dias de folga para comprar instrumentos em todos os países nos quais pisava. Além disso, ele mantinha o hábito de assistir a espetáculos e trocar conhecimento com outros artistas sempre que era possível. Essas novas referências culturais lapidavam seu talento. “Não dá pra dizer que ele é só músico ou só animador, ele é muita coisa, mesmo! É um artista completo”, avalia outro companheiro do navio, Roberto Affonseca, 30.

Ter esse grande potencial para a comunicação e as artes exige que ele desenvolva ferramentas emocionais para descobrir um ponto de equilíbrio entre a criação e a rotina. É comum ele passar dias sem dar notícias ou, de repente, sair para uma caminhada sem rumo pela cidade. “O Fê é imprevisível. Se ele estiver numa padaria e sentir vontade de fazer palhaçada, ele faz, dá um show. Mas se estiver num ambiente que lhe desagrade, não pensa duas vezes, vai embora”, exemplifica o amigo da família, Marcos Mossi, 22.

O temperamento excêntrico e misterioso emoldurado pelos quase dois metros de altura, os olhos azuis e os cabelos dourados causam frisson entre as mulheres. “De todas as meninas que conhecem o Felipe, no máximo cinco por cento delas não se apaixonam por ele”, afirma Gabriela Winter, 27, companheira de animação. É um homem melífluo. Seduz pela beleza e pela espontaneidade. A amiga Carol Tiese, 21, complementa: “É uma das pessoas mais sinceras que eu conheço, fala tudo o que tem que falar, sem ser rude. Ele é especial e sabe disso”.

Essas paixões, as reflexões, o olhar atento à vida e ao humano são a matéria prima que Felipe utiliza para escrever as letras e compor as melodias. No começo de 2007, lançou seu primeiro álbum independente, o "Sempre Sou Eu”. Desde então, ele se apresenta na noite paulistana. Algumas vezes, acompanhado de uma banda, formada por Felipe Gomide, 21, na bateria, Marcelo Brocotó, no baixo, e, na percussão, Davi de Freitas, 25, o Xirica, parceiro artístico desde a época da faculdade, pra quem foi composta a música "1000 wolts".

Artistas semelhantes a Felipe Montanari, na idade média, eram chamados menestréis. "Aquele que chega de surpresa, se expressa por meio da arte, encanta as pessoas e parte”, esclarece a amiga Deise Engel, 32. No contexto atual da pós modernidade, esse tipo de artista não encontra um papel único, permanente, no qual caiba. Em fôrmas de palavras ou definições, ele transborda. Talvez, a comparação menos rasa seja com alguém que “lava a poeira diária de nossas almas”, usando a idéia do pintor espanhol Pablo Picasso. Para o futuro, que o palco esteja montado.

Sunday, August 19, 2007

O diferencial

- Você não me satisfaz.

Quando as pessoas percebem que a superficialidade domina a maioria dos seus relacionamentos elas se assustam. Em seguida, por um tempo longo, questionam-se e tentam descobrir uma pista que prove o quanto estão equivocadas. Mas se essa pista for ilusória, resta a elas criarem vergonha na cara e amadurecerem.

- Já que você não me satisfaz, você não me atrai. Ou não me atrai porque não me satisfaz. O fato é que estou passando vontade e isso não me agrada, está fora do que eu me permito suportar. Não quero. Você pra mim é pouco, menos do que eu preciso.

O mais difícil costuma ser admitir que somos os maiores responsáveis pela superficialidade que nos persegue. Se homens são cafajestes, se os amigos são interesseiros e se a família é ausente, não faz a mínima diferença. As nossas escolhas, palavras e atitudes é que definem o nível de intimidade das relações que construímos.

- Apesar de eu estar ciente da sua timidez mascarada, do seu medo de não agradar a todos, da sua racionalidade exagerada justamente porque quer estar preparado para se defender das irracionalidades da vida... Não obstante eu saiba desses restos de linha que costuram seu discurso, não estou interessada em você.

A observação e a análise dos fatos são sempre excelentes auxiliares para não cometermos a loucura de investir em casos toscos, inférteis. Seres humanos têm potencial para conviverem harmoniosamente como casais, amigos de longa data ou familiares que se entendem. Infelizmente, entretanto, esse potencial só se transforma em habilidade para raríssimas pessoas.

- Não estou enfeitiçada pela sua beleza física. Não trocaria o prazer da minha tranqüilidade por trinta minutos de sexo com você. Não morrerei se você não se convencer de que merecemos uma chance. Não vou ligar no seu celular dizendo como você é lindo, adorável e irresistível. Não escreverei recados confessando a minha saudade. Nada disso me basta, eu quero mais.

Durante o processo de aprendizado para sermos emocionalmente maduros, diversas vezes teremos de surpreender os nossos medos com gigantescas doses de espontaneidade. Só assim conseguiremos despistar o talento de brincar com o jogo da sedução.

- Não me dê apelidos vazios. Não substitua meu nome por “meu amor”, “paixão”, “meu anjo”. Não apague a minha singularidade porque é isso que eu quero que você enxergue. Não demore para me dar sinal de vida novamente, porque eu quero pontes entre os nossos encontros, quero ouvir sua voz no dia seguinte e no próximo, quero saber do seu trabalho, da sua diversão, dos seus problemas.

Sinceridade devia ser vendida nas farmácias em embalagem com tarja preta. É perigosa, a danada. De repente, ela ou empurra a sua vida para o contexto mais sombrio e depressivo da sua imaginação ou deixa-a repleta de emoções, como num filme de James Bond.

- Já ouviu aquela frase que diz “beleza não põe mesa”? Não seja bobo de acreditar que seu corpinho irá se manter sarado depois dos cinqüenta, que os seus belos olhos serão eternamente tudo o que uma mulher precisa para se apaixonar, que a gentileza do seu flerte vencerá o atrativo da fidelidade nos outros homens e que haverá sempre alguém disposto a lhe dar um abraço e ouvir suas histórias.

A pedra polida ficou para trás. Darwin já se encarregou de explicar porquê os nômades perderam a corrida. As espécies evoluem, as necessidades deixam de se resumir à conquista, à cópula e à procriação.

- Não quero chegar em uma festa e vê-lo com outra mulher, não quero sentir que a minha felicidade amorosa está sendo ameaçada pela tribo das fêmeas necessitadas. Não quero ter que continuar escondendo os meus sentimentos porque não sei adivinhar o que você pensa e sente.
Antes que as máquinas fiquem mais humanas do que nós, antes que os antidepressivos sejam a água da próxima geração, antes que a amizade seja uma palavra conhecida apenas pelos anciãos e antes que sintomas de amor sejam interpretados como doença mental, devíamos nos arriscar um bocadinho mais. A sabedoria das células não nega: a vida não se faz com solidão.

- Não quero desperdiçar a nossa sintonia. Não quero dizer adeus. Não quero essa dor.

Monday, August 13, 2007

Um outro olhar

Antes não havia o medo de ser intenso ou de alcançar o despreparado. Talvez porque antes ninguém havia desvendado a timidez do meu olhar. Ou, então, todos os outros fingiam se importar com o idioma dos meus olhos.
É essa a razão da minha angústia. Descobri que estou apaixonada como nunca havia estado. Se me acostumei a banhar-me em lagoas, agora devo ter coragem para correr o risco de mergulhar no mar profundo.
A inédita sensação de felicidade que a sua companhia me provoca remete aos momentos de minha infância em que percebia a vida pelos beliscões de alegria que ela me dava.
Conhecê-lo foi ser apresentada à fertilidade dos bons sentimentos e à fonte dos sorrisos que não se desmancham.

Monday, August 06, 2007

Lâmpada mágica.

Quero poesia que dá fome em vez de alimentar.
Quero olhares longos e corajosos.
Quero o espontâneo e a intensidade.