O encantador de pessoas
Atice a sua mente e façamos um exercício. Imagine um músico com a presença de palco do Cazuza, a irreverência dos Mamonas Assassinas e a mensagem que lembra Raul Seixas. Ele toca inúmeros instrumentos, dança, hipnotiza o público e o faz cantar, rir, abrir os braços imitando um mosquito doidão. Felipe Montanari é o “Nonada”, do escritor Guimarães Rosa. Inédito e indefinível, atraente e curioso.
Agora, vou lhe contar a história de como este paulistano, filho do meio do seu Pedro e da dona Lena, transformou-se em um artista interessante. Ainda na barriga da mãe ele começou a receber influências culturais, “Durante a gravidez do Felipe, eu estava trabalhando na minha tese, sobre a música popular e o texto literário. Ouvia muito MPB e lia bastante", relembra Marilena. No dia sete de julho de 1980, Felipe de Lauro Montanari nasceu, canceriano, com ascendente em peixes e lua em touro. A posição dos astros já dava dicas da personalidade sensível, instável e criativa que se formaria.
Primeiro destacaram-se as habilidades do ator. Desde criança era dramático, fazia questão de aparecer. Aos dez anos começou a tocar órgão eletrônico e o lado musical despontou. “Eu estava dormindo e ele entrava no quarto com o berimbau, fazendo barulho. Gostava de tocar com o violão nas costas pra chamar a atenção”, conta o irmão mais novo, Lucas Montanari, 20. O talento artístico era complementado pelo relacionamento com o pai, Pedro, formado em filosofia e contestador firme da ditadura, que deixou o cargo de diretor de banco para trabalhar em casa, perto da família, como consultor.
Na adolescência, Felipe combinou os prazeres da música e da arte com a aventura de ser turista, na maioria das vezes sem muitos recursos. O amigo, Fábio Frood, 29, revela como eles se divertiam: "Éramos uma dupla de palhaços em festas infantis, Costeleta e Chumbinho. Ganhávamos uma graninha e íamos viajar. Quando faltava dinheiro, a gente fazia malabarismo no farol, cuspia fogo, inventava arte pra ganhar um trocado, pedia carona”. “O Fê sempre foi sensível, era legal brigar com ele porque ele chorava (risos). Acho que essa característica o ajuda a ser tão criativo, um artista tão complexo. É o único que eu conheço que compõe, toca a viola, dá risada, interage com as pessoas e canta ao mesmo tempo”, acrescenta Frood.
Quando terminou o colegial técnico em Propaganda e Marketing, ele contrariou a expectativa da mãe e decidiu não continuar a carreira publicitária. “Tentaram me ensinar como convencer o fulano de que uma porcaria é um ótimo produto. Não quero fazer isso. Quero trabalhar com gente feliz”, justifica. Esse argumento o levou à faculdade de Turismo, em 1998.
Dificilmente a escolha de outra profissão seria tão bem sucedida. O curso de turismo permitiu que ele aplicasse seu dom de entreter pessoas e adquirisse a experiência de conhecer diferentes culturas, o que enriqueceu seu espírito artístico. Felipe nunca passou despercebido. O colega de faculdade, Bruno Flaiban, 27, relata uma situação em que o carisma do amigo transformou suas férias: "Estávamos na Bahia, para passar o reveillón, hospedados em um lugar sem muita vida noturna. O Fê foi até um dos quiosques de praia e fez contato com os donos, se apresentou como artista, com seu violão e alegria. Dois dias depois, aquele quiosque era o novo point de todas as praias da região”.
Em dezembro de 2000, ele literalmente deixa o Brasil para entreter o mundo. Embarca pela primeira vez em um navio, com a função de animar os passageiros. Durante os seis anos trabalhando em cruzeiros nacionais e internacionais, conheceu praticamente toda a costa brasileira e européia, virou poliglota, foi aplaudido por platéias das mais heterogêneas, respeitado e querido pelos outros funcionários, desde o faxineiro até o comandante. “A diferença é que o Fê não faz animação, ele é um animador, naturalmente. Mesmo quando vai beber um copo de água ele transforma aquilo em uma cena engraçada”, explica o colega de faculdade e parceiro de animação no navio, Bruno Cordaro, 26.
Apesar de, nesse período, ter exercitado mais a aptidão para showman do que para músico, Felipe aproveitava os dias de folga para comprar instrumentos em todos os países nos quais pisava. Além disso, ele mantinha o hábito de assistir a espetáculos e trocar conhecimento com outros artistas sempre que era possível. Essas novas referências culturais lapidavam seu talento. “Não dá pra dizer que ele é só músico ou só animador, ele é muita coisa, mesmo! É um artista completo”, avalia outro companheiro do navio, Roberto Affonseca, 30.
Ter esse grande potencial para a comunicação e as artes exige que ele desenvolva ferramentas emocionais para descobrir um ponto de equilíbrio entre a criação e a rotina. É comum ele passar dias sem dar notícias ou, de repente, sair para uma caminhada sem rumo pela cidade. “O Fê é imprevisível. Se ele estiver numa padaria e sentir vontade de fazer palhaçada, ele faz, dá um show. Mas se estiver num ambiente que lhe desagrade, não pensa duas vezes, vai embora”, exemplifica o amigo da família, Marcos Mossi, 22.
O temperamento excêntrico e misterioso emoldurado pelos quase dois metros de altura, os olhos azuis e os cabelos dourados causam frisson entre as mulheres. “De todas as meninas que conhecem o Felipe, no máximo cinco por cento delas não se apaixonam por ele”, afirma Gabriela Winter, 27, companheira de animação. É um homem melífluo. Seduz pela beleza e pela espontaneidade. A amiga Carol Tiese, 21, complementa: “É uma das pessoas mais sinceras que eu conheço, fala tudo o que tem que falar, sem ser rude. Ele é especial e sabe disso”.
Essas paixões, as reflexões, o olhar atento à vida e ao humano são a matéria prima que Felipe utiliza para escrever as letras e compor as melodias. No começo de 2007, lançou seu primeiro álbum independente, o "Sempre Sou Eu”. Desde então, ele se apresenta na noite paulistana. Algumas vezes, acompanhado de uma banda, formada por Felipe Gomide, 21, na bateria, Marcelo Brocotó, no baixo, e, na percussão, Davi de Freitas, 25, o Xirica, parceiro artístico desde a época da faculdade, pra quem foi composta a música "1000 wolts".
Artistas semelhantes a Felipe Montanari, na idade média, eram chamados menestréis. "Aquele que chega de surpresa, se expressa por meio da arte, encanta as pessoas e parte”, esclarece a amiga Deise Engel, 32. No contexto atual da pós modernidade, esse tipo de artista não encontra um papel único, permanente, no qual caiba. Em fôrmas de palavras ou definições, ele transborda. Talvez, a comparação menos rasa seja com alguém que “lava a poeira diária de nossas almas”, usando a idéia do pintor espanhol Pablo Picasso. Para o futuro, que o palco esteja montado.
Agora, vou lhe contar a história de como este paulistano, filho do meio do seu Pedro e da dona Lena, transformou-se em um artista interessante. Ainda na barriga da mãe ele começou a receber influências culturais, “Durante a gravidez do Felipe, eu estava trabalhando na minha tese, sobre a música popular e o texto literário. Ouvia muito MPB e lia bastante", relembra Marilena. No dia sete de julho de 1980, Felipe de Lauro Montanari nasceu, canceriano, com ascendente em peixes e lua em touro. A posição dos astros já dava dicas da personalidade sensível, instável e criativa que se formaria.
Primeiro destacaram-se as habilidades do ator. Desde criança era dramático, fazia questão de aparecer. Aos dez anos começou a tocar órgão eletrônico e o lado musical despontou. “Eu estava dormindo e ele entrava no quarto com o berimbau, fazendo barulho. Gostava de tocar com o violão nas costas pra chamar a atenção”, conta o irmão mais novo, Lucas Montanari, 20. O talento artístico era complementado pelo relacionamento com o pai, Pedro, formado em filosofia e contestador firme da ditadura, que deixou o cargo de diretor de banco para trabalhar em casa, perto da família, como consultor.
Na adolescência, Felipe combinou os prazeres da música e da arte com a aventura de ser turista, na maioria das vezes sem muitos recursos. O amigo, Fábio Frood, 29, revela como eles se divertiam: "Éramos uma dupla de palhaços em festas infantis, Costeleta e Chumbinho. Ganhávamos uma graninha e íamos viajar. Quando faltava dinheiro, a gente fazia malabarismo no farol, cuspia fogo, inventava arte pra ganhar um trocado, pedia carona”. “O Fê sempre foi sensível, era legal brigar com ele porque ele chorava (risos). Acho que essa característica o ajuda a ser tão criativo, um artista tão complexo. É o único que eu conheço que compõe, toca a viola, dá risada, interage com as pessoas e canta ao mesmo tempo”, acrescenta Frood.
Quando terminou o colegial técnico em Propaganda e Marketing, ele contrariou a expectativa da mãe e decidiu não continuar a carreira publicitária. “Tentaram me ensinar como convencer o fulano de que uma porcaria é um ótimo produto. Não quero fazer isso. Quero trabalhar com gente feliz”, justifica. Esse argumento o levou à faculdade de Turismo, em 1998.
Dificilmente a escolha de outra profissão seria tão bem sucedida. O curso de turismo permitiu que ele aplicasse seu dom de entreter pessoas e adquirisse a experiência de conhecer diferentes culturas, o que enriqueceu seu espírito artístico. Felipe nunca passou despercebido. O colega de faculdade, Bruno Flaiban, 27, relata uma situação em que o carisma do amigo transformou suas férias: "Estávamos na Bahia, para passar o reveillón, hospedados em um lugar sem muita vida noturna. O Fê foi até um dos quiosques de praia e fez contato com os donos, se apresentou como artista, com seu violão e alegria. Dois dias depois, aquele quiosque era o novo point de todas as praias da região”.
Em dezembro de 2000, ele literalmente deixa o Brasil para entreter o mundo. Embarca pela primeira vez em um navio, com a função de animar os passageiros. Durante os seis anos trabalhando em cruzeiros nacionais e internacionais, conheceu praticamente toda a costa brasileira e européia, virou poliglota, foi aplaudido por platéias das mais heterogêneas, respeitado e querido pelos outros funcionários, desde o faxineiro até o comandante. “A diferença é que o Fê não faz animação, ele é um animador, naturalmente. Mesmo quando vai beber um copo de água ele transforma aquilo em uma cena engraçada”, explica o colega de faculdade e parceiro de animação no navio, Bruno Cordaro, 26.
Apesar de, nesse período, ter exercitado mais a aptidão para showman do que para músico, Felipe aproveitava os dias de folga para comprar instrumentos em todos os países nos quais pisava. Além disso, ele mantinha o hábito de assistir a espetáculos e trocar conhecimento com outros artistas sempre que era possível. Essas novas referências culturais lapidavam seu talento. “Não dá pra dizer que ele é só músico ou só animador, ele é muita coisa, mesmo! É um artista completo”, avalia outro companheiro do navio, Roberto Affonseca, 30.
Ter esse grande potencial para a comunicação e as artes exige que ele desenvolva ferramentas emocionais para descobrir um ponto de equilíbrio entre a criação e a rotina. É comum ele passar dias sem dar notícias ou, de repente, sair para uma caminhada sem rumo pela cidade. “O Fê é imprevisível. Se ele estiver numa padaria e sentir vontade de fazer palhaçada, ele faz, dá um show. Mas se estiver num ambiente que lhe desagrade, não pensa duas vezes, vai embora”, exemplifica o amigo da família, Marcos Mossi, 22.
O temperamento excêntrico e misterioso emoldurado pelos quase dois metros de altura, os olhos azuis e os cabelos dourados causam frisson entre as mulheres. “De todas as meninas que conhecem o Felipe, no máximo cinco por cento delas não se apaixonam por ele”, afirma Gabriela Winter, 27, companheira de animação. É um homem melífluo. Seduz pela beleza e pela espontaneidade. A amiga Carol Tiese, 21, complementa: “É uma das pessoas mais sinceras que eu conheço, fala tudo o que tem que falar, sem ser rude. Ele é especial e sabe disso”.
Essas paixões, as reflexões, o olhar atento à vida e ao humano são a matéria prima que Felipe utiliza para escrever as letras e compor as melodias. No começo de 2007, lançou seu primeiro álbum independente, o "Sempre Sou Eu”. Desde então, ele se apresenta na noite paulistana. Algumas vezes, acompanhado de uma banda, formada por Felipe Gomide, 21, na bateria, Marcelo Brocotó, no baixo, e, na percussão, Davi de Freitas, 25, o Xirica, parceiro artístico desde a época da faculdade, pra quem foi composta a música "1000 wolts".
Artistas semelhantes a Felipe Montanari, na idade média, eram chamados menestréis. "Aquele que chega de surpresa, se expressa por meio da arte, encanta as pessoas e parte”, esclarece a amiga Deise Engel, 32. No contexto atual da pós modernidade, esse tipo de artista não encontra um papel único, permanente, no qual caiba. Em fôrmas de palavras ou definições, ele transborda. Talvez, a comparação menos rasa seja com alguém que “lava a poeira diária de nossas almas”, usando a idéia do pintor espanhol Pablo Picasso. Para o futuro, que o palco esteja montado.