Sunday, August 13, 2006

Vitória em palavras

O suicídio
é inerente
à existência de mim mesma.
A voz que não cala
nem desaparece.
Suplício
de inconformismo.
Vejo mais
pelos cristais
que a tristeza abunda
em meus olhos.
Uma noite: vitória cansada,
afastada do que se pode compreender.
Mas, enquanto houver palavras,
a vida é sem fim.

Culpada

Tanta culpa maculada,
nesse ardor de alma inconsolável
que se atira na dor
de trair a si mesma.

Tanta culpa muda,
nesse desejo torturado
que não se apaga, não desiste,
nunca aceita a habilidade de ator.

Tanta culpa que me engole,
tira o pedaço de paz
que me assegura o sobreviver
nesses dias sem razão.

Tanta culpa solitária,
inundada do sangue do sacrifício
do amor de eternidade
que não pede nada além
de poder ser amor.

Tanta culpa fragilizada
pela saudade infinita
que aterroriza o tempo
durante as distâncias e as ausências.

Tanta culpa irreparável
nessa agonia por saber demais,
nesse tormento por ser livre
aquilo que é belo e verdadeiro.

Tanta culpa.
Ajoelho-me implorando perdão.
Confesso-me amante inveterada.
Ignoro-me por causa do medo.
Desafio-me embora não possa caminhar.
Entrego-me.

Tanta culpa,
pelo amor estragado,
pela paixão insatisfeita.

Culpo-me ainda e sempre
por querer o que é posse e ilusão.
Mas é renúncia purificada
e é justa
e real.

Wednesday, August 09, 2006

Especial do ouvinte

Friday, August 04, 2006

O que será (À flor da terra)

Chico Buarque/1976

O que será que será
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
Que gritam nos mercados, que com certeza
Está na natureza, será que será
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho

O que será que será
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia-a-dia das meretrizes
No plano dos bandidos, dos desvalidos
Em todos os sentidos, será que será
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido

O que será que será
Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão repicar
Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E o mesmo Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno, vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo



* Quando a boca se fecha e as mãos se recusam a escrever, ele diz o que deveria ser dito.