Wednesday, November 29, 2006

Sounds - By Gabo Pinotti

Sunday, November 19, 2006

O amante

Conheces meus rodeios de palavreado,
minhas insônias e meu ciúme.
Nem mesmo desconfias de quantos sim
entreguei às tuas expectativas generosas.
O querer-ter me invadiu uma paixão
desconcertada duplamente doída.
Paixão de não poder estar junto.
Paixão de se saber mais que paixão.
Paixão desconcertada por ser surpreendente.
Chegaste em hora de luzes apagadas
e me mostrou os fogos de artifício
colorindo a avenida.
Ligaste o som e me devolveste
a esperança das letras de música.
De repente, colocaste a mão na minha cintura,
provando que não se esgotaram os amores,
os carinhos, as descobertas, as alegrias.
Cativates em mim a simpatia doce
de um protetor que também
exige abraços meus.
E mais.
E muito mais.

Chão de algodão-doce

As escadas de concreto
não me parecem levar
a um iluminado destino.
Prefiro
degraus de algodão-doce,
elevador com botão
para o infinito
ou uma ladeira
de flores.

Dizem que não há escolha.
Crêem que a saída
é pagar impostos
de boca calada.
A poluição
já afetou
o discernimento.

Digo não
às agulhas do sistema.
Não. Não. Não.
Nãos que terminam em par,
em positivo.
A única chance
para o sucesso.

Marco o ponto
no único emprego
que me produz
algum sentido:
o trabalho
reflexivo.

Escadas de concreto
guiam até o último andar.
Eu quero desandar.
Quero caminhar.
Quero subir sem limite.
Não quero pisar em concreto,
quero realizar.

Cimento na palavra,
na voz, na idéia.
Cimento no sonho
estraga a vida.
Estraga a morte.
Estraga a passagem
e a trajetória.
Estraga.

Quero desandar.
Descobrir os além-limites.
Quero pisar em algodão-doce
e desafiar o perigo
de ele ser leve demais.

Saturday, November 11, 2006

Tropeços

Um instante
para perambular
dentro da expectativa
abortada.

Incompreensão
- fluxo de pensamentos
secretos
sobre um fio
de desejo
encabulado
rumo a um desconhecido
constragimento
por não saber como caminhar.

Lentidão.
Fatos moles e lerdos.
Sem corrimão
para descansar o medo.
Tropeços no impulso
de pedir um beijo.

Queda muda
e sonora
na poça
de complicados sentimentos.

Quanto se pode
contemplar
a paixão
sem o vento
do destino
para empurrar
as velas
que orientam
o futuro?

Thursday, November 09, 2006

Teste de poesia

Enroscou-se no meu olhar e não quer mais ir embora
é um vento sagaz
é silêncio secreto
é barulho de vontades
é pedido, é pedido medroso.

Dobrou a esquina e não sabe mais aonde ir
quer dar passo pra trás
quer correr em frente
quer ficar
quer descobrir a cor da faixa de chegada.

Sentiu que era de cetim o sorriso e ficou com medo de estragar
escondeu as interjeições
escondeu a dúvida
escondeu a mão procurando a cintura
escondeu o pensamento embrulhado em papel de bombom.

Arriscou-se mas perdeu a coragem de levantar o troféu
mostrou os tesouros
mostrou as peças quebradas
mostrou as pegadas
mostrou o livro debaixo da terra com letras de açúcar.

Tuesday, November 07, 2006

Intertextualidade

A minha angústia na obra de Clarice:



Meu Deus, me dê a coragem

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.

Monday, November 06, 2006

Comprovado

Amor conjugado
no pretérito imperfeito
do presente inconstante
do gênero futuro.

Amor reprovado
pelos finais incompletos
das tragédias errantes
de um medo sem dono,
que se perde quando
se descontrola.

Amor amado na distância
próxima da nossa intimidade
de metade do pedaço todo.

O outro da outra,
a outra do outro,
a inevitável traição
do fiel que se compadece
das aventuras do enredo.

Amor de olhar manso,
de pudor ausente,
de inútil covardia,
de paciência e de descanso
porque pra sempre
é plena euforia.

Amor de pirilampo,
comprovado.

Amor que não cabe,
que consola a espera
e todo mundo já sabe
que é amor comprovado.

Wednesday, November 01, 2006

Bem me quer ou mal me quer?

Deveras intrigada,
eu persisto
na observação dos fatos.

O que está por vir
vem de onde
não se pode conter,
não se pode prever,
mas se pode sentir.
E querer.

Lá, tão longe,
o outro lado da história
permanece sem ir ou vir.
Ou penso eu
que não se mexe?

O confiar é
constante quando
não se teme
a partida.
O medo, porém,
é dos amantes
a mais íntima companhia.

Será... Será... Será...

Bem me quer? Mal me quer?
Bem me quer ou mal me quer?